sábado, 21 de maio de 2011

QUALIDADE E PERSONALIDADE TEM NOME


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Abr 09

O Pedro Leal é um grande bacano, a propósito do meu post àcerca do ToZé Brito, traduziu e mandou-me esta magnífica entrevista com o Terence Trent d'Arby, alias Sananda Maitreya, realizada pela revista Keyboard Recording, onde ele explica por que é que se libertou do jugo das editoras.

Mesmo a propósito, no Bitaites soube que a mesma legislação defendida pelo TóZé Brito foi chumbada no parlamento francês. É uma vitória de uma batalha e não de uma guerra. Eles não vão ficar parados. Temos de nos manter atentos...


Nunca mais lhe chamem Terence Trent d'Arby, o náufrago da indústria da música sem escrúpulos.
Depois de conquistar a independência na internet, Sananda Maitreya volta ao palco. Hipermotivado e pronto para o 'combate'.


Keyboard Recording (KR): Vive em Milão, longe da indústria do disco. É por escolha?
Sananda Maitreya (SM): Teria que consumir muitas drogas para conseguir interessar-me de novo pelo que se passa na Indústria da Música actualmente. É tão chato... a música é o meio de comunicação mais potente jamais criado, as vibrações, as ondas, a música, são a base de toda a matéria. Na Bíblia está escrito: 'No princípio era o verbo'. Quer dizer, um som, e o primeiro som na base do Universo é 'Ommmmm...'. Ver como a música foi violada e depois vendida como um produto de marketing a jovens de 18, 20 anos é uma blasfémia!
Eu faço parte de uma geração que cresceu com os Pink Floyd, os Stones, Hendrix. os Ramones... até os Bay City Rollers eram mais credivéis que as boys band de hoje! Roubaram-nos a música no dia em que funcionários de 'fato e gravata' decidiram quem ia ser uma estrela e quem não seria.

Eles que se fodam!
São as mesmas pessoas que assassinaram o Terence Trent d'Arby. Também não acredito, tão pouco, que o Kurt Cubain tenha metido uma bala na cabeça, nem que o Jim Morrison tenha morrido na banheira. O stablishment tem medo dos verdadeiros poetas. É também por isso que o John Lennon não passou dos quarenta. Tinham medo da sua voz política. Compreendi que nem era preciso falar de 'política' para se ser político. Bastava ser diferente do 'negro simpático' de quem eles asseguram a promoção. Por exemplo, os militantes que defendem o 50 Cent para arredondar os seus discursos, são os mesmos que utilizam esses discursos para financiar os politicos que deviam proteger as suas comunidades contra tipos como o '50 Cent'. E continuarão a pagar-lhe enquanto ele desempenhar o papel de espantalho negro. Que merda de cinismo! Prefiro morrer do que viabilizar um sistema como este.
Quando era miúdo sonhava ser uma 'estrela do rock', ser um 'rolling stone', um Sam Cooke, não era trabalhar para esses cagalhões que marginalizam as nossas comunidades e acabam por transformá-las em tribos. (Uma pausa...). Ainda ouço vozes, essas mesmas vozes que me diziam há vinte anos que Terence Trent d' Arby era um nome comprido demais para que as pessoas se lembrassem dele. Insisti. O Miles Davis disse um dia que a única maneira de sobreviver a esses cabrões era não lhes dar atenção. Ou somos um líder ou não o somos, e quando somos um líder não temos que pedir a autorização a ninguém.
KR: Desde 2002 que vende os seus álbuns exclusivamente na internet. É um precursor nesse domínio...
SM: Todos temos uma missão. Eu faço parte de uma 'equipa' de integridade. Sinto-me muito próximo de Tom Yorke, que também faz parte desse clube. Ao vender o disco na internet, os Radiohead fazem o que eu faço há cinco anos e isso toca-me. O mp3 é a vingança da música. Era preciso encontrar uma saída de emergência. Que se foda a alta fidelidade, que se foda o 5.1. O que é que o 5.1 trouxe à música senão aumentar as vendas de equipamento? Os Pink Floyd inventaram o 5.1 há quarenta anos, caraças! Gosto da internet porque as pessoas só têm acesso a um tipo de som, como no tempo do mono. Olha os Beatles: gravaram o primeiro álbum num dia, nem havia stereo!
KR: Toca todos os instrumentos e produz você mesmo os seus discos. De que é composto o seu estúdio?
SM: Angels & Vampires foi gravado com o software Junglesounds. Nigor Mortis, o próximo álbum, com uma mesa de mistura Tubetracker. Gravo principalmente em analógico e nunca mais em oito pistas, porque o espaço é o melhor músico do mundo. Sou um oportunista musical, não um integrista que recusa absolutamente trabalhar com o Pro Tools. O ProTools liberta-me, porque assim não tenho que me preocupar com os arranjos. Não utilizo o Pro Tools para colar bocadinhos, mas para ter uma melhor visão do resultado depois da gravação. Adoro o numérico porque isso quer dizer que o próximo Brian Wilson poderá ser um gajo qualquer do norte de França que cheira a queijo e nunca sai do quarto, mas que cria a sua cena sem se preocupar com o que pensam as rádios ou a MTV.
KR: Em 2001 mudou legalmente de identidade para Sananda Maitreya em vez de Terence Trent d'Arby. Porquê?
SM: A minha personagem não foi criada pela indústria do disco. Fui criada por mim e por Deus. Matei o 'TTd'A'. Ele morreu, e a única coisa que sobrou foi o instinto. Dylan foi crucificado por ter utilizado uma guitarra eléctrica. Também aconteceu o mesmo ao Mohammed Ali quando mudou de nome. Eu também passei por isso. Crucificaram-me quando editei o Neither Fish Nor Flesh, mas as bandas influentes de Seattle disseram-me mais tarde quanto esse álbum tinha sido importante para a carreira deles. Um neurocirurgião japonês explicou-me que Neither Fish Nor Flesh era utilizado no maior hospital de Tóquio para fazer saír pacientes do coma! Ainda recebo muitos pedidos a propósito do 'TTd'A', best-ofs por exemplo.

Que se fodam!!

A realidade mudou. Hoje promovem 'TTd'A' mais do que jamais o promoveram nestes últimos dez anos. O último jornalista com que falei disse-me que podia encher salas de 10 000 pessoas se usasse o meu verdadeiro nome. Para quê? Já fiz isso! O maior desafio é encher de novo salas a partir da uma nova organização.
KR: Que fórmula propôe nos seus concertos?
SM: Em palco toco em trio com a minha banda 'Nudge Nudge'. Sempre fui fã de trios, como os 'Cream', 'The Jimi Hendrix Experience' ou 'The Police'. Seria fácil esconder-me atrás de grandes músicos. Em trio não há tempo para poses. Nada de 'teclas', 'metais', écrans de fumo ou espelhos, só o 'caralho' e os 'tomates'. 'Um, dois, três e 'go'!', como diziam os Ramones. Não tinha sentido tanto prazer desde os 22 anos quando tocava com a minha banda, 'The Touch' na Alemanha.
KR: Trabalha actualmente no seu novo álbum 'Nigor Mortis'. Como o vai editar?
SM: Angels & Vampires foi editado sob a forma de capítulos. Hoje, já não é preciso subtermo-nos a um prazo. Por que não editar 20 faixas de uma vez e 5 na vez seguinte? É o novo modelo. É muito mais fresco e espontâneo editar 'singles' de vez em quando do que esperar dois ou três anos entre cada álbum. Os jogos de vídeo não mataram a música, a internet não matou a música, a falta de interesse das editoras pela verdadeira música é que matou a música!

Escolhi a via subterrânea da internet para mostrar a minha música. Conseguimos, fizemo-lo. É preciso saber ir à cruz. Sacrificar-se para aceder a uma nova vida. Talvez Sananda não seja tão prolífico que o 'TTd'A' mas a sua disciplina é mais forte... perdemos 10 milhões de euros com esta história. Este parto foi difícil, mas esta nova vida vale a pena. Só um idiota total ou um génio, o que muitas vezes vai dar ao mesmo, poderia ter feito uma coisa do género.

In: Keybord Recording, Novembro 2007. Tradução, Pedro Leal.
Sananda Maitreya 'Nigor Mortis' - Chapter 1

(www.sanandamaitreya.com)

encenada por Pedro Marques às 18:27

quarta-feira, 11 de maio de 2011

(Jack Kerouac)


"Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam."